domingo, 30 de janeiro de 2011

Vou guiar-Te até onde Me quiseres levar


"Vou-te revelar um segredo... Mas este segredo é um segredo especial. Tens de o escutar com muita atenção e, depois, guardá-lo muito bem dentro do teu coração. Entendido?
Então, agora, olha para o céu... Estás a olhar? Vês aquela estrela pequenina, a mais cintilante? Não, não é essa. A outra, mais ao lado... Que acabou de piscar para ti! Ali! Exacto. Essa mesmo!
- Eu...
Conheces essa estrelinha?
Não?! Como podes não a conhecer? É a estrelinha que mais te segue, persegue e agarra nos momentos mais inúteis e nos momentos mais inesqueciveis! É a única que permanece a noite inteira acordada só para se certificar que não acordas com pesadelos maus.
- Tu...
Não te lembras... Foi na noite passada, enquanto dormias. Um pesadelo, daqueles que te deixam a tremer de medo quando acordas, daqueles que te deixam a pensar durante todo o dia, te assombrou o pensamento.
Brincavas no parque de diversões daquele jardim, perto de tua casa, com o teu irmão mais novo, o Bernardo. Oh! Como parecias feliz, esquecida de todos os problemas, brincavas como uma menina de apenas 10 anos.
Estavas tão concentrada em baloiçar-te naquele pneu que fora suspenso apenas à alguns dias na árvore mais forte e mais robusta do parque, que te esqueceste do recado que a tua mãe te dera.
- Toma conta dele. Olha que ele ainda é pequenino e não tem noção de como o Mundo é perigoso.
- Sim, mãe...
- E não o deixes ir brincar para muito longe!
- Sim, mãe... Até logo.
Anoitecera e já se faziam horas de jantar... Eram horas de ir para casa. Procuraste-o com o olhar por todo o parque e... Ah! Lá estava ele sentado num banco, observando os patos nadando no riacho que passava.
Por momentos tiveste medo que ele tivesse desaparecido. Que sensação desconfortante a de pensar que foste irresponsável, não tomaste conta do teu irmão e que, agora, podias nao o encontrar. Saber que estava tudo bem, de repente, parecia ser a única sensação que, naquele momento, te enchia o rosto de alegria e de alívio.
- Bernardo, anda, vamos para casa.
- Mana, olha! Olha ali aquele patinho!
- Cuidado seu tonto. Ainda cais na água.
- Não caio, não. Eu sou forte, consigo agarrar-me às pedras. Ou então, voar por cima da... Ahh!
- Bernardo, nãoo!
O Bernardo resvalara pelas pedras do riacho e encontrava-se agora dentro de água, a submergir!
Era como se... Era como se alguém o tivesse... Puxado?! Empurrado?!
Mas não se encontrava ninguém ali! Precisavas urgentemente de ajuda! Alguém que te ajudasse a tirar o teu irmão de dentro de água, alguém que chamasse uma ambulância, alguém que o levasse ao hospital!
Tinhas de agir depressa, ele estava submerso na água, sem respirar!
- Ajuda o teu irmão!
Num impulso extremamente rápido, quase mecânico, desceste as pedras dispostas na margem do riacho,debruçaste-te sobre o teu irmão apoiando a sua cabeça com o máximo de cuidado, tal como aprenderas no curso de primeiros socorros do Verão passado, e, elevando-o da água, pegaste nele ao colo e trouxeste-o para o banco do jardim onde, anteriormente, ele estivera sentado.
Todo o cenário à tua volta se tinha transformado! Cercada por dezenas de transeuntes, tremias, com a roupa encharcada, colada ao corpo e com o cabelo ainda a pingar. E, no entanto, era como se nunca tivesses saido do lugar onde estavas.
Apenas Eu podia ouvir quantas vozes gritavam na tua mente chocada. Apenas Eu conseguia contar quantas lágrimas te circundavam os olhos, ansiosas por verterem deles, caindo na tua face pálida, junto dos teus lábios roxos e trémulos. Apenas Eu conseguia sentir a revolta que sentias por não teres protegido o teu irmãozinho. Por Eu não o ter protegido Dele...
- Ó Jesus, onde estás quando mais preciso de ti? Tenho falado contigo todas as noites, tenho acreditado que estás sempre comigo. E agora...? Foste embora?! Onde estás tu? Fraquejas-te quando mais precisei de ti. Que razões me dás para continuar a acreditar que existes quando na verdade não estás onde deverias estar? Salva o meu irmão! Tens de o salvar!
- Acorda, abre os teus olhos.
Vês agora o quanto cruel e injusto é o Mundo à tua volta? Esta é a tua realidade.
Não, não penses que fui Eu quem fez com que todo este pesadelo te parecesse real, te fizesse fraquejar, para que Eu conseguisse influenciar-te do quão imponente é a minha presença.
Preciso da tua ajuda. Compreendes agora o quanto necessidade tenho de que te aproximes de mim? Preciso de ti para juntos conseguirmos diluir o mal que Ele provoca. Nem Eu sei do quão forte e grandioso Ele é mas tenho noção de que a cada novo dia Ele consegue conquistar, com o seu poder de tortura e maldade, a mente de um novo jovem. Não deixes que esta realidade transforme o Mundo, não deixes que o mal te transforme a ti.
- Eu sei. Não te preocupes. Eu sou a tua Estrelinha que nunca deixará de te guiar."

Texto escrito para o contrato de leitura do trabalho de português

Sem comentários: